Só os violentos germinam



Segundo Matthew Lipman, na obra O pensar na educação, existem três pilares que sustentam uma sociedade, modelos de instituições públicas e privadas: a família enquanto valores privados; o Estado representando valores públicos; e a escola como a fusão de ambos.
Das três instituições – família, governo e escola pode-se dizer que a escola simbolicamente representa a produção e circulação do discurso. Então, quando ocorrem agressões a escola, o que está sendo atacado é o discurso da sociedade, como no caso do Massacre de Suzano, no dia 13 de março, na Escola Estadual Professor Raul Brasil, município de Suzano-SP, momento em que dois atiradores, ambos ex-alunos, mataram cinco estudantes e duas funcionárias da escola.
A ação humana na sociedade se concretiza primeiro no discurso, não há ação humana sem que antes ela se manifeste na linguagem. A partir da linguagem é que se estabelece um modus operandi para a execução da ação.
Conforme Arun Gandhi, “O mundo em que vivemos é aquilo que fazemos dele. Se hoje é impiedoso, foi porque nossas atitudes o tornaram assim. Se mudarmos a nós mesmos, poderemos mudar o mundo, e essa mudança começará por nossa linguagem e nossos métodos de comunicação”.
Pode-se dizer então que a linguagem brasileira é violenta, somos violentos, desde o nascimento, quando tivemos que romper a bolsa amniótica, com muita força, ímpeto e usando de máxima agressão. Só os violentos germinam, os que não são violentos morrem no ventre materno. Entender isto significa compreender que não somos apenas seres violentos, também é de nossa natureza gostarmos de dar e receber com compaixão. Entretanto, aprendemos muitas formas de comunicação alienante da vida que nos levam a falar e a nos comportar de maneiras que ferem aos outros e a nós mesmos.
Nada existe individualmente, somente no coletivo é que transformamos a realidade que nos cerca, mas para que isso ocorra é necessário que primeiro as pessoas pensem quanto a urgência de efetuar uma mudança qualitativa em nossas atitudes, começando por desvelar a necessidade da não-violência nas comunicações. Afinal, será que temos necessidade de filmes com tanta morte por arma de fogo? Será que precisamos de jogos cada vez mais cruéis? Será que podemos criar um novo tipo de relação interpessoal baseado no respeito, no amor, na paz? Tomará que consigamos pensar uma nova realidade e possamos sonhar com ela.



Elizabeth Venâncio
Mestra em Comunicação

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