MOÇAS DE FAMÍLIA
Felipe observa a pequena cidade de Goiás, cercada de montanhas e construída em solo colonial. A cidade tem de encanto os casarios, cujos quintais terminam em córregos de água fresca. Antigamente nos salões passeavam os herdeiros da riqueza, sustentada pela exploração do ouro. Falando tanto o francês quanto o português. As igrejas construídas por escravos ostentam imagens barrocas pintadas a ouro, obra do escultor Veiga Valle. Em outras épocas o luxo dos livros e das sedas importadas convivia com a desesperança. Nas primeiras décadas do século XX, já não se construía mais do que uma casa por ano, e nas noites de luar, o lirismo das serenatas era pontuado pelos gemidos da febre, provocada pelo esgoto que corria a céu aberto. Felipe olhou para o alto. A noite brilhava sem estrelas. Uma enorme lua cheia clarificando o que a escuridão não poderia esconder. O vento sopra ao longe. Paira no ar uma estranha sensação de vaso