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Mostrando postagens de maio, 2011

ANTÔNIO

Ainda pequeno Antônio já dominava o vocabulário Barra-Cordinês. - Rana – era assim que Antônio, com seus dois anos e meios chamava Raimunda. - Hum-Hum - Dá batelão. - Não intica! - Só bocadinho. - Dou-lhe um broque! A verdade é que Raimunda nunca bateu em Antônio, dizia para mantê-lo quieto, sabia que Amariano, seu pai, era severo demais e naquela época Antônio seu único filho homem, o orgulho da família. Escolheu o nome para o menino não por causa de Santo Antônio, nada a desmerecer o santo, muito pelo contrário, era devoto, fervoroso e fiel, um verdadeiro católico apostólico romano, negar jamais, porém o desejo pelo nome surgiu em uma conversa... Amariano gostava de aprender, tinha o prazer dos viciados, caminhava léguas por um bom-papo, não media esforços quando o assunto era o debate sadio de idéias, gostava de argumentar, encontrar soluções, falar de política, ouvir histórias de outras épocas. Foi assim que descobriu o brasão de sua família, sentia orgulho em mostrá-lo, t

Eu nasci imortal

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Penso e sou mulher. Difícil, mas insisto. Como apreender a existência neste estilhaço de tempo? Eu nasci imortal. Meu coração alforriado. Minhas ações desordenadas, revolucionárias, apaixonadas... Sem conhecer limites. Alheia a restrição espacial. Só tive medo do tempo. Senhor implacável. Minuto após minuto. A cada pequena perda. Suprimindo... Jugulando... Dilacerando a alma. A imortalidade empalideceu. E observo a morte. Vejo-a galopar freneticamente. Sorrio, pois posso deté-la. Eu armazenada em uma folha de papel. Bem guardada poderei percorrer séculos, ludibriando o efêmero. Mesmo em um opúsculo que nunca será lido. Um folhetim resguardando pequenos fragmentos de manha e deleite. Venci.

Maria de Jesus inundada de vida.

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Brotou Maria, mas não idêntica a tantas. Era Maria de Jesus inundada de vida. Recebeu agulha e linha. Cerziu linho, chitas, gabardines e foi costurando a vida. Sem nenhum luxo. Cheia de filhos. Por vezes sem ter o que comer. Outras colhendo a ajuda alheia. Maria cresceu com anseios. Queria o Mar... Os rios... Cidades distantes. Mas Maria apareceu mulher em um sertão remoto Pouco soube da leitura e da escrita. Aos quinze casou-se com um varão, 20 anos mais velho. Aos dezesseis achou que iria morrer. Dando à luz ao primeiro, dos oitos filhos que teria. Teve medo de onça! Sentiu frio na cama vazia. Sentiu raiva... Sentiu tantas coisas calada. Que se tornou Maria igual a tantas.

Opiniões dilaceradas pela estupidez

Hidrobike! Uma bicicleta parada no fundo de uma piscina com alguém pedalando loucamente, Gertrudes sorriu levemente entre uma fungada e outra pensando acerca de si mesma.   Observou, a sua frente, uma   piscina olímpica, nela   pessoas nadando de um lado para o outro como peixes no aquário, adiante um pedaço de céu, algumas árvores entrecortadas e   um som ensurdecedor, que   conservava suas pernas em atividade. Era como um chicote estalado no ar, uma ordem para seguir (Para onde!). Por mais que ela pedalasse não saia do lugar, por mais que fizesse força a única coisa que conseguia era continuar vendo as mesmas coisas. Sentiu uma profunda   certeza, de que foi assim sua vida inteira.   Querendo ver além da aparência do mundo, lutando por descobrir a razão das coisas, mas tudo se resumiu a nada, porque sua inteligência não é capaz de compreender o todo. Sua consciência observar coisas entrecortadas, opiniões dilaceradas pela estupidez, fragmentos de muitas idéias truncadas, de pessoas q