A racionalidade humana nos tornam idiotas imponderáveis
A rua parecia diferente, cores
azuladas cintilando. A calçada molhada e o irritante caminhar das
mulheres em seus saltos altos. Eugênio nunca apreciou o som dos saltos. Mas, no fundo gostava da altivez que o salto proporcionava, era bonito de se vê, a forma doce como as pernas
se alongam, suspirou.
A noite já ia longe, porém não sentia vontade de ir para casa. Seus pensamentos
se tornaram compulsivos, se repetindo como o bater do relógio: tic TAC tic TAC tic TAC tic TAC tic TAC tic
TAC tic TAC, até que de repente só restasse o desespero.
A cidade inteira o recriminava. Estava
nos jornais, na televisão, no rádio, nos comentários de internet... a palavra
para descrevê-lo era intolerante. Um juiz intolerante. Pensou com ironia e uma
certa amargura “eu represento o Estado, sou um agente político, logo a minha
decisão é de todos. Todos são intolerantes".
Tinha consciência que um
pensamento não se forma por si só. Se foi capaz de pensar, então os elementos de seu pensamento já estavam lá. Afinal, nenhuma atitude fica sem pressuposto, pois
tudo é um desencadear de coisas, um fluir em rede. Entretanto, o problema parece ser como nos
comunicamos. Mil maneiras de dizer coisas. A mesma coisa! De repente a forma transformam as relações.
- Como assim?
Exclamou em voz alta. Olhou com medo ao redor para ver se alguém o havia
escutado. Parecia que todos estavam ocupados demais. Seres fechados que nada percebiam. Sem
tempo para observar a figura imponente, trajando um terno de risca de giz,
sapatos de couro legítimo e na expressão facial um descontentamento por não encontrar uma resposta para a sua condição de intolerante.
Não sabia para onde ir, olhou
novamente a rua, as pessoas e pensou que mundo estranho onde tudo segue um padrão, as
formigas, as abelhas, as células, os lobos, tudo enfim pode ter seu
comportamento previsto, menos o ser humano. Não dá para entender, não se pode
dizer que são seres maus ou bons, pois são inconstantes, deve ser
justamente por isso, a racionalidade humana nos tornam idiotas imponderáveis."
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