Não é no silenciar que encontraremos a resposta para o problema.


Acordei com uma sensação de indignação. Estou indignada comigo, pois um amigo morreu na fila do Hospital de Urgência de Goiânia e eu não disse palavras. Todos os dias os jornais noticiam a mesma coisa, mas hoje eu conhecia o motivador da reportagem. Um rapaz de 36 anos, que depois de um dia inteiro sem assistência hospitalar morreu, como morrem milhões de brasileiros sem direito a atendimento.

Até a metade do século XX, não existia sistema de saúde no Brasil. Quem tinha dinheiro era tratado em instituições privadas e os trabalhadores em clinicas e hospitais dos sindicatos. Nas áreas urbanas, os pobres procuravam ajuda nas instituições filantrópicas. Nas áreas rurais, camponeses e meeiros tinham de confiar em curandeiros ou cuidadores leigos para suas necessidades de saúde. No auge da redemocratização do país, a Constituição de 1988 declarou que a saúde era um direito do cidadão e um dever do Estado. Posteriormente, foi organizado o Sistema Único de Saúde, ou SUS, com os princípios da universalidade, integralidade assistencial, promoção da saúde e participação da comunidade, com fundos públicos para a prestação de cuidados de saúde gratuitos para os cidadãos brasileiros.

Ora, não é porque a história da universalidade da saúde no Brasil só tem 23 anos é que devemos nos calar diante da perda de uma vida. O cidadão comum, como eu, precisa se organizar em defesa do direito universal a saúde, afinal se não for assim, continuaremos adormecidos diante de campanhas para doação de órgãos, enquanto os hospitais não conseguem realizar o mínimo de transplantes necessários.

Teremos de achar bonito ver ex-presidente falar de tratamento para câncer, enquanto a doença avança no Brasil e as pessoas não tem tratamento. Conforme o tipo de tratamento, nem a metade dos pacientes que procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) conseguem assistência. E, num contexto em que o tempo é fundamental para a cura ou a sobrevida, a espera média pela primeira sessão de radioterapia chega a ser desesperadora: mais de três meses. Os dados constam de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Conforme o relatório, as unidades públicas de saúde deveriam ter atendido em 2010 169,3 mil doentes que necessitavam radioterapia, mas só 111,5 mil foram contemplados (65%). No caso das cirurgias oncológicas, os números são ainda piores: de 152,4 mil pessoas, 71,2 mil ou 46% conseguiram passar pelo procedimento. Logo, muito ainda precisa ser feito em prol do direito a vida e não é no silenciar que encontraremos a resposta para o problema.

Comentários

  1. Aí como aqui... todos os dias perdemos direitos!
    Cada vez mais os governos se distanciam dos governados e são paus mandados do grande capital!

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  2. Sinto muito pelo seu amigo, Elizabeth. A situação da saúde no Brasil ainda é alarmante. Já escrevi a esse respeito. Gostei do panorama histórico que você apresentou. Beijos!

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  3. Indigentes... assim nos tratam se não temos convênio particular e, ainda assim o mesmo torna-se um sufoco quando necessitamos consultas e/ou internações! Prazo imenso... como se a vida ou a doença... soubessem agendar-se! Foi o seu amigo, vai-se o meu e o de tantos outros que não têm o Sírio Libanês disponível para tratar-se! Vergonha das grandes! E, vem ai os gastos com a Copa! Futebol, Cerveja - o pão e o circo - quando na realidade necessitamos de corpo são... mas como (?) se as mentes estão corrompidas? Uno-me ao seu sentimento, Elizabeth.
    Abraço, Célia.

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  4. Precisamos sim colocar pra fora toda nossa indignação ao invés de entrarmos no conformismo insano que só faz contribuir para o atraso do nosso Brasil já tão sofrido por tanto desmando.
    Cadinho RoCo

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  5. Pois é, aqui em Portugal as taxas para ter acesso à saúde aumentaram nalguns casos em
    mais de 30%. Vai morrer muita gente, por falta
    de assistência médica.

    Desejo-lhe um Feliz e Santo Natal.
    Beijinho
    Irene

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