O PAPA FRANCISCO MASCARA OU DESVELA A REALIDADE

O Papa Francisco seduz para si os olhares, não apenas pelo símbolo de poder e
influência que representa ao redor do mundo, mas principalmente pela postura de
enfrentamento de problemas que acompanham a humanidade, entre eles, o da
distribuição de renda.
No dia 6 de
fevereiro, a BBC, por meio de sua subsidiária no Brasil, noticiou “Para
conservadores nos EUA, papa é 'marxista' e 'ambientalista radical'”. Chamadas na
mídia, dessa importância, são convidativas para uma reflexão sobre o que se
abrigaria por detrás deste título? Afinal de contas, já se vão séculos de
discussões de como reorganizar a sociedade de forma racional, para que não
exista um desequilíbrio tão grande entre capital e trabalho. Em outras palavras,
o que se vê é que o capitalismo não cumpriu a promessa de dignidade e decência
ao ser humano, anunciada pela livre economia de mercado, e agora faz-se
necessário pensar em novas soluções para melhorar de forma global a vida em
sociedade.
O jornalista
britânico Austen Ivereigh, autor da recente biografia do pontífice, “O Grande
Reformador”, acredita que muitos nos EUA não entendem a mensagem do papa. Ora,
entendem sim. O que parece haver, neste caso, é a ocorrência do princípio da
dissonância cognitiva. Segundo a qual e, conforme os pressupostos do psicólogo
social Leon Festinger, entre os seres humanos existe uma tendência a preferir e
valorizar aquilo que vai ao encontro de suas certezas. Por isso mesmo, os
desacordos percebidos entre crenças, ideologias e conceitos são combatidos,
muitas vezes de forma cruel, inclusive atacando, sem piedade, o interlocutor da
ideia.
"Seus comentários
sobre o capitalismo são surpreendentes. Parece que ele não valoriza o fato de
que o capitalismo foi e continua sendo uma força incrível nos últimos 200 anos
para aumentar os níveis de vida de milhões de pessoas em todo o mundo", disse
James Pethokoukis , jornalista e analista do American Entreprise Institute (AEI,
na sigla em inglês), em entrevista à BBC Mundo.
Será que é
possível comparar a vida dos camponeses da Idade Média munidos de enxadões com a
vida dos trabalhadores pós-modernos, aparelhados com seus celulares? A cada
época é necessário pensar a respeito das relações, da forma como convivemos no
mundo. A crítica que o Papa Francisco faz ao falar contra a manutenção das
condições que perpetuam a exclusão social parece ser mais profunda do aquilo que
estamos acostumados a perceber. Fala contra manter excluídos sociais. Uma
reserva de pessoas abaixo da linha de pobreza que se submetem a qualquer coisa
que o capital careça.
Para explicar a
ideia que expomos, não é preciso ir longe. Goiás resgatou do trabalho análogo ao
de escravo 141 trabalhadores em 2014, conforme dados do Ministério do Trabalho e
Emprego. E aqui mesmo, muitos dizem não existir trabalho escravo, que isto é
apenas cultura! Ou seja, avaliam o fato de não ter condições de alojamento,
alimentação, salário, segurança e saúde na ambiência de trabalho como naturais,
principalmente por estas condições sempre terem se mantido desse modo,
inalteradas desde a colonização.
Outro ponto da
matéria da BBC Brasil é chamar o Papa Francisco de ambientalista radical.
Ambientalista tudo bem, pois o ambientalismo de modo geral se fundamenta nas
noções de que a vida na Terra é integrada e interdependente, que as outras
espécies, tanto como o homem, têm o direito à vida. Os recursos naturais são
limitados e devem ser manejados com objetividade e prudência, tendo em vista
também a justiça social e a viabilidade econômica. Em resumo, toda pessoa de bom
senso quer o bem de seu planeta, que significa o seu próprio bem, mas
“ambientalista radical” pressupõe cessar o desenvolvimento humano em prol da
natureza, sendo esta considerada uma visão utópica de ordem política, social e
econômica.
O jornalista
Austen Ivereigh continua afirmando na matéria que o papa "Quando fala da
economia e dos mercados, o faz seguindo a tradição da educação social da Igreja
Católica. Não está falando de um ponto de vista ideológico."
Neste caso,
Ivereingh parece estar fundamentando sua afirmação no conceito de ideologia de
Karl Marx e dos pensadores adeptos da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, que
consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto,
mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. Nesta
perspectiva, o papa Francisco não age de um ponto de vista ideológico, pois não
mascara, mas tenta desvela uma situação que precisa ser pensada.
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