FOFOCA
Uai! Lá vem
Sofia, filha de Manoel das Cruzes, e Ambrósio, filho de um grande amigo meu,
Venâncio, aquele que mora lá pras bandas do Rio do Peixe.
Epa!! De
onde estão vindo estes dois, desconjuro! Cruz Credo! De pensar que seus pais
não se bicam. Venâncio é uma boa pessoa, mas quando pisam no seu calo, sai de baixo,
vira bicho, só vendo, Agora o Manoel das Cruzes, tá pra nascer cabra tão ruim.
Mas vamos deixar disto que vosmicês é capaz de pensar que
sou fofoqueiro, num sabe que fofoca a gente aqui de Pilar de Goiás não faz não,
o máximo é um “comentariozinho sem maldade.” Temos até uma história que apresenta
bem esta cidade.
Tudo
aconteceu quando foram contar para Cida, Filha de Tiquinha, que viram ela e o
Bastião Gudinho lá pras bandas do morro
do suspiro, que tem este nome... Bão, deixa pra lá.
Cida ficou uma fera, quando tomou conhecimento, atravessadamente,
por meio de Benedita, do que estavam falando dela na cidade. Nessa hora ela
rodou a baiana e gritou para quem quisesse ouvir que não iria descansar enquanto
não estourasse a cara do desavergonhado, que havia começado aquele falatório.
Dona
Tiquinha resolveu acompanhar a filha, afinal era o nome da família que estava
em jogo, e perguntaram para Benedita quem havia dito tamanha infâmia. Após uma longa pausa enquanto ajeitava a saia,
alisava os cabelos. Bendita parecia querer ganhar tempo, quando de repente
soltou a queima roupa:
- Foi Tuta, e sorriu
por dentro ao imaginar como tudo aquilo ia terminar. Isto porque Tuta e
Benedita não se davam e lá se foram as três marchando pra casa de Tuta, que
avisada pelos moleques da rua, não aguentou
e na porta esperava quando as três chegaram.
- Vieram me contar que tu
andaste espalhando coisa de mim por aí! Foi logo falando Cida, antes mesmo de se achegar direito. Tuta, que
já sabia de tudo, não se abalou.
- Pois é, né Cida,
negar eu não nego, mas quem me contou esta estória foi o Bola, peraí, não , foi
não, foi Xocha mulher de Cu-Seco.
E
lá se foram as quatro, pisando duro, para a casa de Xocha. Foram chegando e
entrando, pois afinal, ninguém ali era
dado a cerimônia, quem não era parente de sangue, tinha algum cunhado, genro,
coisa que o vale, na família.
Encontraram
Xocha tirando água da cisterna, que com o susto deixou o balde cair, como não
estavam interessadas no balde, Cida mais que depressa repetiu a mesma pergunta
e obteve a seguinte resposta:
- Não sabe Cida, que
este povo tem uma língua muito grande – falava e olhava para Tuta – Verdade que
eu disse mesmo, mas quem me disse foi Careca.
E lá se
foram todos para casa de Careca, que para infelicidade geral do dia na estava
em casa, depois de explicarem para a mulher de Careca, molharem a garganta com água e café, o bolinho
de arroz não aceitaram não, afinal estavam com pressa. Seguiram todos para a
roça, até mesmo a mulher de Careca que não era boa das pernas e os dois filhos.
Da cerca mesmo, Cida animada pela platéia gritou:
- Vem cá Careca, que tu
precisa me explicar umas coisinhas -
nesta hora não só veio Careca como todos
os peões, que aproveitaram o
barulho para enrolar o serviço.
- Fiquei sabendo que tu
andou espalhando coisa de mim e Bastião Gudinho ... antes dela terminar Careca avançou no
palavreado.
- Olha Cida, tu deve
saber que num sou hôme de fofoca. Nesta hora a roda cacarejou e um reboliço
assanhou o mulherio.
– Nem tempo
tenho, mas como ia te falar, eu arrazoei sem maldade, mas quem me contou
foi o velho Lixande – e lá se foram, com
os peões atrás, a comitiva, e por onde passavam arrastavam mais gente, quando
finalmente chegaram à casa de Lixande, que morava a meia légua afastado da
cidade. Cida já com os pés doendo e
sem muito convicção na voz repetiu a
pergunta.
Bobo o velho Lixande não era, se fez de desentendido
pensou um pouco, manteve o suspense enquanto pode, cuspiu no chão diante do
olhar de todos e por fim ponderou.
- Bão, vocês todos aqui
me conhecem, eu falei, num sabe Maria Aparecida, mas quem me contou tudo TIM
TIM por TIM TIM foi o Luizinho, irmão de Itamar, filho do Zé.
O espanto
foi geral, pois afinal, Luizinho mora lá onde Judas perdeu a meia, pois a bota
ele perdeu bem antes, foi então que se começou uma acalorada discussão sobre
como fazer, onde arrumar o dinheiro para ir até lá, teve gente que sugeriu uma rifa, tipo aquelas
de dias de reis, outros ainda mais festeiros, sugeriram uma grande festa, com
churrasco, sanfoneiro, rojão e o povo dava gritos de aprovação, mas aí havia um problema, tinha que ir alguém com Cida,
para trazer a noticia em primeira mão, todos os detalhes, o tom de voz, frase
por frase... mas quem, se todos queriam ir e ninguém abria mão disto.
De repente
Cida sem anunciar nem nada olha para todos e diz.
- Num quero mas sabê. E partiu deixando atrás de
si uma gente decepcionada.
Enquanto ela caminhava para casa alguém
sugeriu, por que não tomar umas pingas no botequim do Dito e quem sabe mais
tarde poderia até sair um arrasta pé. Os que não haviam participado da marcha vinham
chegando e cada novo participante a história crescia e as gargalhadas
aumentavam, quando o assunto já estava quase fenecendo e o sol nascendo
levanta Sandoca com a cara já cheia e
voz própria dos embebedados e grita pro povo.
- Também, o povo de Pilar não pode ver uma coisa, quatro
ou cinco vezes que já sai comentando!!!! – e a gargalhada foi geral, nesse
momento em algum lugar a orelha de alguém coçou.
Beth, eu gosto muitíssimo de histórias com linguagem regional. E a sua ficou ótima. Eu pensei que a Cida ia acabar exagerando na bebida e se amancebando com o Gudinho no botequim, deixando ir-se embora o boi com a corda, como diriam.
ResponderExcluirParabéns! Beijo!
Obrigada. beijos.
ResponderExcluirObrigada. beijos.
ResponderExcluirGostei desta história. Desejo que esteja bem.
ResponderExcluirVenho desejar a si e sua Família um Feliz e Santo Natal.
Beijinhos
Irene Alves