Parte III - Fragmentos do livro comunicação como um mosaico simbólico
De repente, um barulho o fez virar e observar a família se preparando para almoçar. À mesa,
todos mantinham o silêncio sepulcral diante da figura imponente do pai, que se encaminhava para seu trono. Seu pai se sentou rigidamente à mesa do almoço, cabelo ruivo, barba por fazer, roupa surrada pela lida da fazenda. Não havia palavras à sua volta, nenhum muxoxo, muito menos demonstração de afeto ou desdém. Até os animais da fazenda silenciavam naquele momento. Permanecia, apenas, a paralisia familiar ante o olhar severo que comunicava — dever, obediência e mudez. A atmosfera pesada, compacta e opressora continha a respiração de todos, doía quando o ar entrava. Entretanto, Antônio Carlos
decidiu que era chegada a hora de transgredir, fazer diferente,
pois estava muito aborrecido, porquanto seu galo Godofredo,
cuja estimação fazia seu coração bater mais forte, só de
pronunciar seu nome, fora cruelmente assassinado, despedaçado
e jazia na mesa, dentro de uma panela de ferro, cercado por
sementes flutuantes de pequi, sem sequer uma oração de
agradecimento.
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