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Mostrando postagens de julho, 2012

FELIPE

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Felipe relembra o nascer do dia em Goiás. As crianças acordando para a aula de dona Tita-olho-roxo. Sete e meia o sino toca, todos correm fazendo fila para o hino nacional. Cada fila com dez crianças, os menores na frente, construindo uma estranha escada. Rosto levantado. Mão no peito e após o hino vem o pai nosso, cantado com voz de cotovia. De repente uma matraca se punha no meio do bando, no fim de tudo: – Bom dia Dona Tita! Gritava o coro. Quase sempre a resposta era um muxoxo, um ranger de dentes apertado, sofrido, como canção de retirante, parecendo mais um adeus ao filho que vai a guerra ou que morreu. Dona Tita-olho-roxo é o retrato do sofrimento. Padecia muito, era o que todos diziam. Havia uma aceitação social do fato. As crianças não entendiam muito bem por que ela sofria. Só se recordam das palavras dos pais – não contraria Dona Tita, coitada! Seja obediente para dona Tita, tadinha! E as frases se repetiam, sempre mudando os adjetivos, coitada, desgraçada, infeliz...